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.14.Mesmo se houveres de viver três mil anos ou dez mil vezes esse tempo,lembra-te de que ninguém perde outra vida senão aquela que está vivendo, nemvive outra senão a que perde.Assim, a mais longa e a mais curta vêm a dar nomesmo.O presente, por sinal, é o mesmo para todos; o perdido, portanto, é igual eassim o que se está perdendo se revela infinitamente pequeno.De fato, não19Píndaro (518 a 446 a.C), nascido na Beócia, compôs hinos e cânticos de vária espécie, principalmente religiosos, de exortação moral eodes triunfais celebrando os vencedores nos jogos da Hélade.Dotado de um estilo grandioso, nobre e ousado, ainda que espontâneo eoriginal, por vezes obscuro, pelo abuso de metáforas. podemos perder o passado nem o futuro; como nos poderiam tirar o que nãotemos?Lembra-te, pois, sempre destas duas máximas: primeira, que tudo, desdetodo o sempre, tem o mesmo aspecto e se renova em ciclos; nenhuma diferença fazverem-se os mesmos fatos por cem anos ou por duzentos, ou eternamente;segunda, que a perda é igual tanto para o de vida mais longa como para quemmorre cedo, porquanto o presente é a única coisa de que será desapossado, pois sótem este e não perde o que não tem.15.Que tudo é opinião.São evidentes as palavras ditas a Mônimo, o Cínico;evidente também o proveito do asserto para quem o degusta dentro dos limites daverdade.16.A alma do homem a si mesma desonra sobretudo quando se torna, tantoquanto dela depende, um apostema e um como tumor do mundo.Com efeito,agastar-se com um dos acontecimentos é desertar da natureza, que abrange comopartes suas as naturezas individuais dos demais seres.Desonra-se, em segundo lugar, quando repele algum ser humano ou avançacontra ele para causar-lhe dano, como as almas dos coléricos.Terceiro, desonra a si mesma quando se deixa subjugar pelo prazer ou pelador.Quarto, quando dissimula, com fingimentos e mentiras, o que faz ou diz.Quinto, quando larga seus atos e impulsos sem nenhum propósito,executando à toa e inconseqüentemente seja o que for, quando os mínimos atoscumpre se realizem de acordo com a finalidade.E a finalidade dos viventesracionais é obedecer à razão e às leis da mais venerável das cidades e repúblicas.17.Da vida humana, a duração é um ponto; a substância, fluida; a sensação,apagada; a composição de todo o corpo, putrescível; a alma, inquieta; a sorte,imprevisível; a fama, incerta.Em suma, tudo que é do corpo é um rio; o que é da alma, sonho e névoa; avida, uma guerra, um desterro; a fama póstuma, olvido. O que, pois, pode servir-nos de guia? Só e única a Filosofia.Consiste ela emguardar o nume interior livre de insolências e danos, mais forte que os prazeres emágoas, nada fazendo com leviandade, engano e dissimulação, nem precisando queoutrem faça ou deixe de fazer nada, acatando, ainda, os eventos e quinhões que lhetocam, como vindos da mesma origem qualquer donde vem ele próprio; sobretudo,aguardando de boa mente a morte, qual mera dissolução dos elementos de que secompõe cada um dos viventes.Se os elementos mesmos nada têm a recear da contínua transformação decada um em outro, por que havemos de temer a transformação e dissolução dotodo? Ela é conforme com a natureza e não existe nenhum mal conforme com anatureza.20Em Carnunto5F06LIVRO III1.Não devemos ter em conta somente que, dia a dia, se vai consumindonossa vida e restando uma parte menor, mas computar também que, se alguémhouver de viver mais tempo, não se sabe se ainda terá inteligência bastante amplapara a compreensão das questões e da teoria que aspira ao conhecimento dosassuntos divinos e humanos.Se entrar em senilidade, não lhe faltará a respiração, o nutrimento, aimaginação, os instintos e mais funções congêneres; porém o dispor de si próprio,o acertar na conta das obrigações, o analisar as aparências e, a seu próprio respeito,o examinar seja não será tempo de retirar-se e demais cogitações análogas, querequerem um raciocínio absolutamente exercitado, apagam-se antes.Ê mister, portanto, apressar-se, não só por estar a morte cada vez maispróxima, mas também por cessarem, antes dela, a percepção e acompanhamentodos fatos.20Aquartelamento à margem do Danúbio, na Panônia, hoje Hungria. 2.É mister também ter sob as vistas fatos como o seguinte: até os acidentesdos produtos da natureza têm sua graça e sedução.Por exemplo, na assadura, o pão fende-se em alguns lugares; as rachadurasassim formadas, contrárias, de certa maneira, aos propósitos da panificação, têm oseu atrativo e excitam particularmente a vontade de comer.Igualmente, quando bem sazonados, os figos racham; nas azeitonasamadurecidas na planta, a aproximação mesma do apodrecimento confere ao frutouma beleza particular; as espigas vergadas para baixo, a pele da fronte do leão, aespuma a escorrer do focinho do javali e muitos outros exemplos, embora longe deum belo aspecto quando examinados em si mesmos, não obstante, comoconseqüências de obras da natureza, concorrem para a beleza e atração doconjunto.Assim, a quem tem sensibilidade e inteligência profunda do que há no todo,quase nada, mesmo entre os acidentes advindos como conseqüências, deixaria deostentar uma graça peculiar; não menor prazer experimentará contemplando asfauces hiantes das feras na realidade do que nas imitações exibidas pelos pintores eescultores; seus olhos experimentados poderão ver certa perfeição e encantomesmo nas velhas e nos velhos, e uma graça sedutora nas crianças.Muitos exemplos semelhantes se encontrarão, que não creria um qualquer,senão apenas quem esteja realmente familiarizado com a natureza e suas obras.213.Hipócrates,5F após ter curado muitas doenças, adoeceu por sua vez e1622morreu.Os caldeus,5F que predisseram a morte de muitas pessoas, foram depois26alcançados por sua vez pelo destino.Alexandre, Pompeu e Caio César, depois detantas vezes destruírem cidades inteiras desde os fundamentos e destroçarem embatalhas campais dezenas e dezenas de milhares de cavaleiros e peões, um dia, por23sua vez, partiram desta vida [ Pobierz caÅ‚ość w formacie PDF ]

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